domingo, 20 de novembro de 2011

Ser Ateu - Douglas Celente


Há apenas um requisito para que alguém possa se dizer ateu, e este é não crer na existência de deuses. Muito embora o termo venha tomando múltiplos significados no trato popular, às vezes utilizado para classficar pessoas que não têm opinião formada a respeito da existência de deuses, ou que acreditam em algo superior que o intelecto humano não é capaz de entender, mas isso é porque fica difícil explicar (para alguns) a diferença entre ateísmo e agnosticismo.
Seja como for, deve ficar claro que, para ser ateu, NÃO É NECESSÁRIO:
- Ser revoltado com a vida: eu mesmo não o sou. É perfeitamente possível (e normal e comum) que um ateu seja perfeitamente feliz e esteja em conformidade com sua vida da maneira que ela é.
- Converter teístas: não somos uma instituição que tenta "converter" crentes/teístas. Não temos uma crença especificamente, apenas a falta dela em deuses.
- Ser revoltado com deus: isso é uma impossibilidade, na verdade. Como se revoltar com algo que crê-se não existir???
- Ser satanista: Outra impossibilidade, visto que o satanás do qual os teístas normalmente falam, seria outro ser sobrenatural, além de ser criação de um deus. Se não cremos na existência do alegado criador, que dizer da criação?
Obs.: tenha em mente que há vertentes do satanismo que não necessariamente adoram ao famigerado demônio, mas isso é outra estória. Teístas, de maneira geral, usam o termo para designar um adorador do “anticristo”.
- Partindo da premissa anterior, é de se esperar que um teísta pense: "mas o homem também é uma criação de Deus, bem como a Terra e tudo o que há. Então ateus não acreditam na existência do homem?" (creiam, não é difícil supôr que um teísta chegue a esse ponto). Mais uma vez: não cremos na existência de seu deus, nem de qualquer outro. Há explicações perfeitamente plausíveis (e mais prováveis) para o surgimento do homem e todo o resto.
Digo todas essas coisas porque não é nada incomum nos depararmos (nós, ateus) com um teísta que tenta brincar com a lógica se valendo de jogo de palavras, crendo ser racional e verossímil que assim o faça. O problema, amigo teísta que porventura esteja lendo essas linhas, é que há nome para isso que tão comumente fazem: SOFISMA.
Os sofistas remetem a tempos muito antigos, e os grandes pensadores (filósofos) já tinham muito trabalho com estes. Bem, a bem da verdade, tinham trabalho com as pessoas comuns, que criam nesses sofistas, às custas da verdade e, não raro, perdas materiais. Criam nos sofistas que, não raramente, opunham-se às ideias dos verdadeiros pensadores, de forma a deturpar a verdade e se beneficiar dos resultados. Os filósofos nunca tentaram agradar às massas: buscavam a verdade, doa a quem doer. Por isso era fácil acreditar em seus opositores, sempre vendendo ideias que pareciam "fazer mais sentido" às mentes mais limitadas, distorcendo a lógica e a razão, afim de promover benefícios a si próprios.
Os sofistas de hoje correm às tantas pelas ruas hoje em dia. Você pode facilmente encontrá-los num púlpito, seja "ao vivo", seja em um canal de televisão; em palanques políticos, promovendo festas e agrados aos menos favorecidos em troca de votos, em hospitais, repartições públicas e muitos outros lugares, mas em nenhum lugar promovem tanto perigo quanto em escolas do ensino fundamental. É lá que começa a "poda do intelecto", a remoção de qualquer vestígio de percepção crítica. A "deseducação", para não dizer "empobrecimento da razão", ou emburrecimento. De lá nossas crianças saem praticamente acéfalas, incapazes de construir ideias ou ideais, tomando emprestados quaisquer princípios dados de mão-beijada (literalmente, às vezes) por uma pessoa que, muitas vezes, também foi a vítima do mesmo processo quando criança. Não que isso o isente de responsabilidade, mas esta passa a não ser apenas dele, e é aí que mora o perigo. Isso se torna um "loop-hole", um ciclo vicioso, cuja reversão ou eliminação fica difícil, pois para isso é necessário olhar crítico e raciocínio, ambos removidos imperceptivelmente (aos olhares desatentos) quando ainda infante inocente.
Não me interpretem mal, por favor: é direito de todo ser vivente crer no que quiser crer. Mas que seja porque o indivíduo ASSIM O QUER, e não porque não lhe deixam outra opção. Não há mal na crença, mas no crente. Crer não é o problema, mas as práticas do crente o são. Comportamentos como preconceito, perseguição, opressão, execução, achincalhamento , dentre outros, são práticas condenáveis e perversas, não condizentes com qualquer princípio que se possa chamar de moral.
Sou da opinião que qualquer ser pensante, com acesso a fontes honestas de conhecimento, livre para pensar e livre de medos infundados, um dia chegará ao ateísmo, ou perto dele (o que já é um grande passo). Se você é teísta, fica a pergunta: partindo do pressuposto que seu deus o criou, não é de se esperar que você faça bom uso dos dons que ele lhe deu, como o cérebro? Não é de bom senso que lhe seja permitir perguntar e procurar, você mesmo, as respostas por seus próprios esforços? Não é assim que qualquer pai espera que um filho o faça? E se assim o é, não se esperaria que a dita entidade cosmológica de intelecto superior não ficasse aquém do nosso próprio?
Os ateus não são e nem se consideram donos da verdade. Apenas estão em busca delas, e cremos que a razão e a lógica (fundamentos da ciência, a mesma que faz seus remédios para dor de cabeça, pílulas contraceptivas, carros, aviões) são os pilares mais adequados para encontrarmos respostas razoáveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário